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Em mais um feito histórico, NEOJIBA realiza oitava turnê internacional e encanta público e crítica europeias

  • 23 set, 2022

A maior turnê realizada por uma orquestra brasileira em 2022, quando o Brasil comemora os 200 anos de Independência, veio da Bahia, lugar onde o país nasceu. A Orquestra NEOJIBA realizou mais um feito histórico ao promover sua oitava turnê internacional, que começou em Salvador, no dia 7 de setembro, e terminou em Lisboa, capital de Portugal, no dia 22/9. Foram nove apresentações em seis países, em algumas das principais salas de concerto do mundo, como a Concertgebouw, na Holanda, e a Philharmonie de Paris, na França. Com direção artística e regência de Ricardo Castro, a Turnê da Independência arrebatou as exigentes plateias por onde passou, além de colher elogios da crítica europeia. 

O berimbau como protagonista

O concerto de abertura da turnê aconteceu no Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia. Pela primeira vez, o berimbau, um ícone da cultura baiana, esteve como protagonista à frente de uma orquestra. A noite foi marcada pela estreia de  "Kamarámusik", composta por Jamberê Cerqueira a partir de um concurso nacional promovido pelo NEOJIBA. 

O solista foi o percussionista Raysson Lima, que integra o NEOJIBA desde os 9 anos, e é capoeirista desde que se entende por gente. Desde pequeno, frequenta as rodas com o pai, o mestre Tonho Matéria.  "Para mim, é muito gratificante. É algo de muito orgulho para a capoeira. Eu estou ali como símbolo de resistência, levando uma cultura que foi negada durante muitos anos", conta Raysson, que brilhou no palco, exibindo com desenvoltura de gente grande todo o seu talento.  A plateia se reconheceu no palco e ovacionou os jovens músicos. 

A apresentação começou com o "Hino da Independência", em homenagem ao bicentenário da Independência do Brasil, e seguiu com a abertura da ópera "O Guarani", do compositor brasileiro Carlos Gomes. Na sequência, a Orquestra NEOJIBA acompanhou a talentosa pianista Manoush Toth, de apenas 16 anos, numa grande performance do "Concerto n° 3 em dó menor para piano e orquestra" de Beethoven. Além da estreia de "Kamarámusik", o concerto teve ainda as "Bachianas Brasileiras n° 4 para orquestra", do também brasileiro Heitor Villa-Lobos. O programa, com exceção do hino, se manteve nas demais apresentações da turnê. O bis extasiou plateias com "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, e "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu. 

Sete países em quinze dias

A Orquestra NEOJIBA viajou para a Europa com 124 pessoas a bordo, entre músicos e colaboradores. Os convites vieram dos festivais e teatros onde a orquestra se apresentou. A Itália foi o primeiro país onde o grupo desembarcou para uma série de três concertos em Rimini, no Teatro Amintore Galli (12/9); Milão, na Sala Verdi (13); e Turim, no Auditório Lingotto (14). Depois, foi a vez de Copenhague, na Dinamarca, na DR Koncerthuset (16); da Antuérpia, na Bélgica, no Queen Elizabeth Hall (18);  Amsterdã, na Holanda, na mítica Concertgebouw (19); Paris, na França, na Philharmonie de Paris (20) e finalmente Lisboa, em Portugal, na Fundação Gulbenkian (22). 

Uma pianista genial acompanhada por uma “joia” de orquestra 

Nos concertos na Europa, a orquestra teve a honra de acompanhar a premiada pianista portuguesa Maria João Pires, uma das maiores musicistas da atualidade. Aos 78 anos, a musicista fez questão de mais uma vez sair em turnê com o programa. “Para mim, o NEOJIBA é um exemplo de muita coisa que deveria acontecer no mundo. Eles têm uma maturidade musical e um fraseado, uma sensibilidade, uma riqueza, a nível mais profundo, que parece um pouco como um milagre. Isso vem de algo em que acredito muito, a educação e a possibilidade de preservarmos a criatividade com que todos nascemos”. 

Maria João Pires, que já esteve como solista à frente das maiores orquestras do mundo, segredou que hoje prefere tocar com orquestras juvenis como o NEOJIBA. “Para mim é um privilégio, porque sinto algo que é muito verdadeiro. Não é só um emprego, uma obrigação, uma forma de ganhar dinheiro e ter um lugar na sociedade. É algo espontâneo, entusiasmado, com vontade de fazer música. É algo que abre os caminhos e que você vai guardar como uma joia. Não importa o que esses meninos todos vão fazer no futuro, se serão artistas, engenheiros ou médicos. O que importa é o que eles vão guardar humanamente, a riqueza emocional e o controle sobre o próprio trabalho”. 

A parceria entre Maria João Pires e o NEOJIBA vem de longe. No início dos anos 2000, a pianista morou em Lauro de Freitas, na Bahia, e em 2011 esteve com os músicos do NEOJIBA na terceira turnê internacional do programa, que passou pela Alemanha e pela Suíça. 

Uma vez neojibense, sempre neojibense

Quando soube que o NEOJIBA sairia em mais uma turnê, a violista Geisa Santos correu para olhar a agenda e planejar o que deveria fazer para poder viajar com a orquestra. Membro-fundadora do programa, ela foi a primeira baiana a ganhar uma bolsa de estudos na prestigiada Academia Filarmônica de Berlim e desde então vive na Alemanha. “Participei de todas as turnês do NEOJIBA. Quando tenho algum compromisso, cancelo... Tenho muita gratidão e carinho pelo programa. Foi o lugar que abriu minhas primeiras portas. O NEOJIBA é minha casa, minha gente, minha cultura. Mesmo aqui na Europa, sinto como se estivesse com a minha família, em Paripe”, ri. A maioria dos integrantes com quem Geisa toca são seus alunos ou ex-alunos. "A gente se diverte. Eles sempre comentam: 'Ah, eu estou aqui porque você insistiu nas escalas, porque quis fazer um ensaio de naipe extra’.  Tem muito trabalho, mas também tem muita risada". 

Os antigos integrantes estavam no palco, como Geisa e o fagotista Luís Felipe Santana, que também está morando na Alemanha, mas também na plateia, como a contrabaixista soteropolitana Kívia Santos, que hoje vive na Suíça. “Parecia que eu estava lá, tocando. É muito familiar. O NEOJIBA foi onde eu aprendi a fazer o que quero fazer para o resto da minha vida, onde descobri o meu lugar no mundo. E ver a peça de Jamberê sendo tocada em lugares que normalmente não tocam nem os compositores brasileiros mais famosos, foi realmente muito emocionante. A parte que Raysson começou a cantar eu não consegui, eu comecei a chorar, porque toca muito fundo”. 

Uma noite mágica na Concertgebouw

Dentre todos os grandes palcos onde a orquestra se apresentou, uma delas era aguardada com especial ansiedade. No dia 19/9, os jovens músicos se apresentaram pela primeira vez na Concertgebouw, em Amsterdã, na Holanda, considerada uma das três melhores salas de concerto do mundo. “Muitos musicistas talentosos não terão, ao longo da vida, a oportunidade de estar aqui, e nós estamos. É um grande feito”, comentou Eduardo Torres, diretor musical do NEOJIBA. 

E foi uma noite mágica, com o brilho de centenas de sonhos sendo realizados. Não bastasse a emoção de estar no mesmo palco onde grandes nomes da música pisaram, como o austríaco Gustav Mahler, a orquestra fez jus a este templo da música e foi ovacionada pela exigente plateia holandesa, que a aplaudiu por diversas vezes, por longos minutos. Alguns ensaiaram até uns passinhos de dança, o que deixou o contrabaixista Ulisses Fernando impressionado. “O público foi impressionante, o pessoal dançou, foi incrível. Toda a energia que a gente passou, eles mandaram de volta. Se eu pudesse descrever esse concerto em uma só palavra, seria inesquecível. Todo mundo estava esperando por essa apresentação desde Salvador, e para a gente foi uma emoção muito grande poder mostrar, finalmente, todo o nosso talento na Concertgebouw. Se a gente puder voltar mais vezes, a gente vai amar!” 

Paris, mais uma vez, de pé 

Pela terceira vez, a Orquestra NEOJIBA se apresentou na espetacular sala da Philharmonie de Paris, na noite do dia 20/9. O lugar é o cenário do nosso vídeo de "Tico-Tico no Fubá", que acumula mais de seis milhões de visualizações, e foi gravado na turnê de 2018. Mais uma vez, a plateia encantou-se com o concerto e aplaudiu os jovens músicos de pé. Fabien Leart, que foi gerente pedagógico do NEOJIBA e hoje trabalha na Philharmonie, contou que essa é uma cena rara de se ver por lá. "Não é todos os dias que você vê o público de pé assim. Isso é sensacional. É a segunda vez que eu vejo o NEOJIBA na grande sala da Philharmonie e é a segunda vez que é um triunfo. É algo único. O NEOJIBA evoluiu muito. É muito bom poder mostrar aos europeus compositores que eles não conhecem, como Carlos Gomes, Villa-Lobos, e que são maravilhosos". 

O engenheiro francês Hadrien Chauvin gostou de conhecer um pouco mais da música brasileira. "O concerto foi incrível, me surpreendeu bastante. Começou com um repertório clássico e depois evoluiu cada vez mais num universo brasileiro. A peça para berimbau trouxe algo único para este lugar, que é um pouco pomposo. Adicionou um toque de leveza. Não conhecia a história desta orquestra, e fiquei fascinado de conhecer. Vida longa ao NEOJIBA" . 

O crítico francês Alain Lompech, um dos mais respeitados da Europa, deu cinco estrelas para a apresentação na publicação do site Bachtrack, referência no universo da música de concerto. "E que orquestra! Para a sua terceira visita à Philharmonie, obviamente está totalmente renovada já que os músicos são adolescentes e jovens adultos que passaram pelos programas de ensino da Neojiba, levando a música a locais onde raramente está presente – atualmente mais de 6.000 crianças (direta ou indiretamente) se beneficiam deste programa. Seu nível instrumental é o de muitas orquestras profissionais", escreveu. 

Alain também exaltou a performance do Concerto nº 3 de Beethoven, com Maria João Pires. "Ter uma orquestra pletórica tocando este concerto, com precisão e sutileza nas sequências com um solista tão inspirado, cuja execução é tão desarmantemente simples, tão essencial, e subir às mesmas alturas é um milagre". O crítico elogiou ainda a execução de Kamarámusik", de Jamberê Cerqueira, considerada por ele "um retrato generoso e jubiloso de Salvador”. "A música de Cerqueira, às vezes, é bem próxima da Capriccio de Stravinsky, mas à brasilidade, portanto pulsante, balançante, cantada com mais generosidade. É tocada por uma orquestra de jovens tão precisos quanto livres sob a direção de seu maestro. E como não saudar o fabuloso Raysson Lima que toca o berimbau como grande virtuoso e como ator e dançarino talentoso". Terminou o texto com um desejo que também é nosso: "Que a Philarmonie convide a Orquestra NEOJIBA de volta". 

Ricardo Castro conta que cada vez mais as críticas são elogiosas ao trabalho do NEOJIBA. "É preciso levar em consideração que nunca são os mesmos músicos se apresentando. Então, o que está sendo criticado é o DNA da coisa, é o que está no fundo daquilo que a gente faz. A gente está levando cada vez novas crianças, que nunca viajaram antes, e a gente consegue reconstruir essa beleza, essa qualidade. Isso é muito impressionante”. 

O fim e o começo

De Paris, a orquestra viajou para Lisboa, em Portugal, onde encerrou, com forte simbolismo, a turnê que celebrou os 200 anos da Independência do Brasil. O concerto no dia 22/9 aconteceu no grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, cujo palco é emoldurado por uma bela vista para o lago e o jardim do lugar. Os ingressos para a apresentação estavam esgotados há mais de um mês. O público português pôde se reencontrar com Maria João Pires, que voltou a tocar em casa, na cidade onde nasceu. 

Iris Mira foi acompanhada da filha e fez questão de compartilhar nas redes sociais a emoção que sentiu naquela noite. “Tive a imensa sorte, ao longo da vida, de assistir a concertos fenomenais de monstros sagrados da música. Mas o concerto de hoje foi, para mãe e filha, o melhor de sempre. A Orquestra NEOJIBA encheu-me o coração e a alma de alegria”.

O arrebatamento do público também foi notado pela crítica. No jornal português Expresso, Ana Rocha escreveu: "A assistência ficou galvanizada pela atuação da pianista Maria João Pires (...). O público aplaudiu longamente a pianista e também os talentosíssimos instrumentistas da NEOJIBA, a orquestra juvenil que a acompanhou com extraordinária consistência, brio e uma dose de entusiasmo que os levou a ondular no palco como se fossem uma seara ao vento. Quase parecia uma cena de luta e de insubmissão quando se viram os seus jovens punhos no ar como na ‘Terra em Transe”, do cineasta baiano Glauber Rocha!". 

A Turnê da Independência foi patrocinada pela PRIO, via Lei Federal de Incentivo à Cultura. 


Confira fotos dos concertos: 

Salvador, Bahia - Teatro Castro Alves - 7/9 

Rimini, Itália - Teatro Amintore Galli - 12/9

Milão, Itália - Sala Verdi - 13/9

Turim, Itália - Auditorio Lingotto - 14/09

Copenhague, Dinamarca - DR Koncerthuset - 16/9

Antuérpia, Bélgica - Queen Elisabet Hall - 18/9 

Amsterdã, Holanda - Concertgebouw - 19/9 

Paris, França - Philharmonie de Paris - 20/9

Lisboa, Portugal - Fundação Gulbenkian - 22/9

 

Sobre o NEOJIBA

Criado em 2007, o NEOJIBA (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) promove o desenvolvimento e integração social prioritariamente de crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade, por meio do ensino e da prática musical coletivos. O programa é mantido pelo Governo do Estado da Bahia, vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, e gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Social Pela Música. Em quase 15 anos, o NEOJIBA atendeu, direta e indiretamente, mais de 12 mil crianças, adolescentes e jovens entre 6 e 29 anos. Atualmente, o programa beneficia 2.324 integrantes diretos em seus 13 núcleos, e 4.500 indiretos em ações de apoio a iniciativas musicais parceiras.


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