• Inicial
  • Mídia
  • Notícias
  • Décima edição do Seminário Pedagógico promove reflexões sobre educação musical e desenvolvimento social

Décima edição do Seminário Pedagógico promove reflexões sobre educação musical e desenvolvimento social

  • 03 fev, 2020

Há uma década, o ano no NEOJIBA começa com um grande encontro, feito para aproximar realidades e encurtar distâncias. É quando quem trabalha no Bairro da Paz pode trocar uma ideia, olho no olho, com quem está em Jequié, e descobrir o que andam fazendo de igual, de diferente, e o quanto podem crescer juntos. Essas conversas multiplicaram-se durante a 10ª edição do Seminário Pedagógico, que começou na segunda-feira, 27, e terminou nesta sexta, 31. O evento reuniu mais de cem profissionais do programa, de todos os núcleos de Salvador e do interior da Bahia. 

Pela primeira vez, o Seminário Pedagógico aconteceu na nova sede do NEOJIBA, no Parque do Queimado, na Liberdade. Nada mais justo do que abrigar reuniões familiares em casa própria.  O secretário de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, Carlos Martins, fez questão de abrir o encontro.  “É importante unificar nossas ações em todos os núcleos, para que todo mundo fale a mesma linguagem e acima de tudo para que a gente cada vez mais fortaleça esta metodologia que está dando certo. Vejo o NEOJIBA como um elemento fundamental do nosso governo, como uma política pública exitosa, que resgata a cidadania e que dá oportunidade aos jovens através da música”. 


Carlos Martins, secretário de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, abriu o seminário

Em 2019, Carlos Martins participou da inauguração dos três Núcleos Territoriais do NEOJIBA, em Feira de Santana, Vitória da Conquista e Teixeira de Freitas. No seminário, lembrou que novos núcleos NEOJIBA serão inaugurados já no primeiro semestre deste ano. “ Acho fundamental essa proposta de interiorizar o NEOJIBA, como diz o nosso governador. As políticas públicas têm que ir para o interior. Nós estamos vivendo uma série de problemas de violência, de vulnerabilidade, principalmente com o jovem, e isso não é só na capital, nas grandes metrópoles”. 

Ensino coletivo

Construída coletivamente, a programação do Seminário Pedagógico foi bem diversa, com palestras, oficinas e sessão de cinema sobre educação, desenvolvimento social, e, claro, práticas musicais. O Diretor Educacional do NEOJIBA,  José Henrique de Campos,  que há três anos coordena o seminário, conta que a ideia é provocar reflexões. “É o momento de todo mundo estar junto e  pensar além. Tem alguns momentos mais técnicos, de orientações, procedimentos, mas o objetivo é promover discussões mais conceituais, filosóficas, para que isso sirva de embasamento, de referência para as equipes. O seminário não vai resolver todas as coisas, porém vai apontar caminhos”.

José Henrique de Campos, diretor educacional do NEOJIBA, coordenou o encontro.

Cinco formadores externos foram convidados para enriquecer os debates e as trocas entre os participantes. Professores da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, Joel Barbosa e Cristina Tourinho falaram sobre o ensino coletivo de instrumentos, enquanto o Maestro José Maurício Brandão abordou a organização e dinâmica de ensaios.

Cristina lembrou de quando resolveu, há quase 30 anos, trocar as aulas individuais de violão pelas coletivas, numa tentativa de diminuir as filas de quem procurava pelo curso na universidade. Contou que a primeira coisa que precisou aprender foi a “não morrer depois do trabalho”, arrancando sorrisos cúmplices dos participantes. Com o tempo, desenvolveu um método para lidar melhor com os alunos, tendo como regra número um que todos podem aprender a tocar. “Também costumo deixar livre para que eles digam o que querem aprender. Teve uma vez, na década de 1990, que queriam tocar uma música do É o Tchan. E eram só quatro acordes, né?  Depois de umas aulas, eles perguntaram: ‘E a gente vai aprender só esses? Aí mostrei outras composições, Bossa Nova… Não dá para chegar impondo”. 


O professor Joel Barbosa falou sobre ensino coletivo de instrumentos.

O maestro José Maurício Brandão também deu dicas preciosas, como a de que um educador, num ensaio, não deve fazer nada que não gostaria que fizessem com ele se estivesse lá do outro lado, segurando um instrumento. “O processo de ensino e aprendizagem é eficaz se acontece  exatamente da forma como deve acontecer para aquela realidade específica. Não adianta querer pegar valores que estão em outro nível, em outro nicho, em outra realidade, e querer colocar ali porque se julga aquilo bom. Bom é o que gera resultado naquele ambiente”. 

Joel Barbosa, que escreveu a primeira metodologia brasileira de formação de banda, falou da importância de políticas públicas que favoreçam o aprendizado da música no Brasil. “Esses programas são essenciais, porque o estudo da música é caro, o instrumento é caro. E um projeto como o NEOJIBA possibilita não só a formação profissional. A música está integrada de tal maneira na educação dessas crianças que elas podem ter uma vida com mais significado, mais relevância, mais amor. Quando a música é feita com esse amor e dedicação que a gente vê nas crianças e jovens do NEOJIBA, traz um outro valor para a existência de cada um deles”.  

Ouvir as vozes

Um outro maestro, Alcides Lisboa veio advogar sua visão de mundo ideal, onde concertos seriam sempre um misto de vozes e orquestras. Ele falou das potencialidades do canto coral como suporte pedagógico para um grupo de instrutores musicais e coordenadores pedagógicos. “A voz, estudada há tanto tempo, oferece mecanismos maravilhosos de sincronização e de execução musical.  É um enriquecimento para a vida inteira”. 

Lisboa também falou sobre a importância do NEOJIBA para a Bahia. “Há muito tempo que a sociedade pedia um conservatório de amplo alcance social. É como eu vejo o NEOJIBA: um igualador de oportunidades sociais e ao mesmo tempo um conservatório, coisa que não havia aqui. É o preenchimento de um vazio”. 


O psicólogo Alessandro Marimpietri discutiu as razões do crescimento do suicídio entre jovens.

Foi sobre preencher vazios e ouvir outras vozes que o psicólogo Alessandro Marimpietri veio conversar no seminário. O tema da sua palestra foi o suicídio, que é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos. “É uma situação de saúde pública, grave, séria, que merece atenção. A gente precisa falar sobre isso e criar uma rede de pessoas que sejam capazes de identificar sinais, já que a maioria dos casos estão na vigência de um sofrimento psíquico. E nós podemos ajudar a ressignificar essa condição”. 

Em todas

Na abertura do Seminário Pedagógico, José Henrique perguntou quem ali tinha estado em todas as edições do seminário. A coordenadora pedagógica Ana Florencia Paulin foi uma das que levantou a mão. Ela lembra que o encontro pioneiro aconteceu antes da inauguração do primeiro Núcleo de Prática Musical, em Simões Filho. “Comparando com o de agora, o contraste é absurdo. Nós recebemos muitos palestrantes, com muita experiência, que são referência aqui na Bahia”.

Paulin conta que com o passar dos anos, e dos seminários, foi ficando mais evidente a importância de se refletir sobre educação. “A gente precisa dar a mesma importância ao que é artístico e ao que é pedagógico. É empolgante começar o ano teorizando um pouco mais. No dia a dia, a gente não tem tanto tempo de pensar nessas coisas, ter essa troca com o pessoal que vem de outros núcleos e do interior”. 

Para André Vasconcelos, auxiliar administrativo do Núcleo Territorial de Vitória da Conquista,  essa troca é fundamental. “Às vezes, a gente tem uma dificuldade lá que um colega aqui tem uma resolução mais simples e vice-versa. Com essa troca de experiências a gente consegue solucionar conflitos e atender melhor o nosso público”. 


Ricardo Castro encerrou o seminário falando sobre políticas públicas para música de concerto na Bahia.

A semana foi encerrada com uma palestra de Ricardo Castro, fundador e diretor-geral do NEOJIBA, que falou sobre as políticas públicas para música de concerto na Bahia. “Nossa maior vantagem sempre foi a de que nós podemos mexer e mudar o NEOJIBA, para nos transformarmos sempre em algo melhor para todo mundo”. 


O NEOJIBA é um programa do Governo do Estado da Bahia, vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social e gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Social Pela Música. Promove, de maneira inovadora, o desenvolvimento e a integração social de crianças, adolescentes e jovens, prioritariamente em situações de vulnerabilidade, por meio do ensino e da prática musical coletivos. 

Fotos: Matheus dos Anjos / IDSM


Comentários