Luthieria: mulheres se destacam no mercado da música

  • 28 mar, 2019

Por Flora Rodriguez

Papéis de gênero ainda hoje influenciam nas escolhas profissionais, mas a presença feminina está cada vez mais em ascensão na ocupação das carreiras tidas como masculinas. Com a luthieria (ou luteria), ofício relacionado à construção e manutenção de instrumentos musicais, não é diferente. A atividade ainda é bastante associada aos homens, mas, aos poucos, tem sido praticada por mulheres interessadas em explorar profissionalmente o vasto campo da música.

Durante a adolescência, a baiana Jéssica Almeida, 28, tornou-se violista na Orquestra Castro Alves do programa NEOJIBA, mas acabou não seguindo por esse caminho. “Um dia precisei consertar meu instrumento e conheci a luthieria do programa. Me apaixonei. Quando surgiu uma vaga, me candidatei e hoje estou aqui. Foi muito mágico entrar nesse mundo, mas não deixa de ser uma luta diária, uma quebra de tabu. Hoje, encaro esse grande desafio me especializando e compartilhando diariamente meu conhecimento e aprendizados com minhas alunas”, conta.

Sobre as estratégias que utiliza para driblar possíveis preconceitos e a desvalorização que comumente pode sofrer uma mulher no exercício de seu trabalho, a archetier (especialista na construção e manutenção de arcos) diz que investe em certificados e cursos que possam oficializar seus domínios. “Preciso passar confiança desde o princípio. Apesar de quase sete anos de trabalho na luthieria, ainda preciso explicar sobre toda minha trajetória e cursos para que o dono do instrumento confie em mim. Não vejo meus colegas precisando provar algo... E é natural que ocupem essa profissão. A ideia de que mulheres não podem usar máquinas para cortar madeiras, por exemplo, porque é perigoso, isso pra mim não faz sentido. Os homens não têm capa de aço”, afirma.

Jéssica constrói e restaura arcos, além de ensinar a outras três alunas bolsistas do programa NEOJIBA. Uma delas é Adriele Leite (à esquerda), 23, que na busca de se reconectar com o universo musical após trocar os estudos de violoncelo pela Faculdade de Biologia, aproveitou para conhecer a fundo o processo de montagem de instrumentos.

“Há quase 3 ano faço parte dessa equipe incrível. Me sinto representada por compor uma sala onde todas são mulheres e muito competentes”, conta a bolsista, que também se incomoda quando subestimam sua força e atenção nas tarefas mais perigosas. “Quando explico às pessoas que utilizo ferramentas como máquina serra-fita, faca e formão, elas ficam surpresas. Não é ‘coisa’ de mulher. Mas se você tem informação e equipamentos de segurança, tanto faz se você é mulher ou homem, todos somos capazes”.

Estereótipos que separam atividades de acordo com características de homens e mulheres também são muito prejudiciais para o reequilíbrio de oportunidades. Em um processo seletivo, por exemplo, é importante ter em mente que é fundamental trazer mais diversidade para seu time. Segundo a diretora de Marketing do Google, Suzana Ayarza, as empresas em que mulheres ocupam pelo menos 30% dos papéis de liderança são 1.4 vezes mais propensas a ter um crescimento contínuo e lucrativo. 

Preconceito de gênero é vedado pela nossa Constituição e por diversos órgãos internacionais, como a ONU, para a qual erradicar preconceitos de gênero é uma meta do milênio.
 


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