As rimas de uma soprano

  • 17 ago, 2017
Toda terça, quinta e sexta-feira, Janaina Noblah chega no Colégio Estadual Odorico Tavares às 13h30. É lá que estão acontecendo os ensaios do Coro Juvenil desde o início deste ano. Ela organiza as salas, cadeiras, estantes de partitura e registra a presença dos integrantes. Além dessas funções, que precisa cumprir como bolsista técnica, ela também passa as tardes fazendo algo que ama: cantando. Porém, a música clássica não é exclusiva no coração de Janaína: ela também é apaixonada por rap. A jovem de 21 anos conheceu o NEOJIBA há cerca de quatro anos, mesmo período em que dava os primeiros passos em busca de seu grande sonho: se tornar MC. Dona de um gênio forte, Jana não gosta de conversinha e defende um “papo mais reto” ou “sem bláblábá”, como define. O lema ela carrega no nome artístico o “NoBlah”, em alusão ao sobrenome [Noblat], de mesmo som. “Eu me considero uma pessoa muito direta. Busco  ter bastante clareza, verdade e respeito em todas as minhas relações”, afirma. A vontade de ser cantora surgiu como brincadeira, quando tinha 10 anos de idade e morava em Saúde, cidade pequena do interior da Bahia. “Estou realizando aquele sonho de infância”, conclui feliz. Após deixar Saúde, com 13 anos, morou por dois anos em Senhor do Bonfim, também no interior baiano. Aos 16 anos, a família resolveu se mudar para a capital, foi quando Janaina conheceu o NEOJIBA através de um amigo, era 2013. Na época, o Coro Juvenil tinha apenas três anos de existência. A música erudita era algo distante da realidade dela. Apesar de “não parar para ouvir”, ela admirava os CDs tocavam na casa da avó, entre os quais estavam Mozart, Vivaldi e Bach. Hoje, ela passa três dias da semana ouvindo e aprendendo música, conhecendo compositores e ampliando seu repertório. “Trabalho feliz”, garante a jovem cantora. Há um ano, Janaina passou a auxiliar Yuli Martinez, coordenadora de canto coral do NEOJIBA. A oportunidade surgiu após um período de dificuldade para arranjar estágio como Jovem Aprendiz. “Conversei com Tansir, do setor de Desenvolvimento Social (DS), e ela me indicou a Yuli, que me convidou a passar por um período de experiência e fiquei até agora”, conta. Tansir Omoni, é psicóloga e integra a equipe de DS do NEOJIBA. Ela afirma que a jovem sempre se mostrou bastante prestativa, dinâmica, criativa, inteligente e interessada. “Tentamos enxergar as potencialidades de cada integrante. Janaina possui o potencial e a vontade de contribuir com o Programa”, esclarece Tansir, que também avalia o trabalho que ela vem realizando como muito bom. 17190414_1102309869875161_7764867392182187791_n A cantora acredita que rap e música clássica são estilos opostos que se complementam. “Os valores que o NEOJIBA prega vão além da música. Vejo na prática como isso pode ser transformador”, afirma. Segundo ela, também é possível aplicar o lema do NEOJIBA Aprende Quem Ensina no rap. “A gente costuma dizer que o rap salva vidas. O NEOJIBA também dá outra vivência para a pessoa, amplia seus horizontes”. Mesmo sem nunca ter participado de uma batalha de rima para valer, Janaina Noblah se tornou campeã da 1º Liga Nacional Feminina de MC’s, evento que teve sua primeira edição em 2016, na cidade de São Paulo. “Sempre admirei o Freestyle. Assistia vídeos no youtube e comecei a fazer com amigos em casa, de brincadeira”. O hobby se tornou sério quando ela foi selecionada para representar a Bahia na competição. “Eu não estava pensando em ir para São Paulo. Foquei na eliminatória e ganhei. Foi a primeira vez que batalhei na vida”, conta. Após vencer a eliminatória regional, um novo desafio surgiria: chegar até o evento. As dificuldades foram superadas graças ao apoio de amigos e familiares. “Consegui ir para São Paulo de ônibus graças a Iza Jakeline (ou Negratha), uma MC de Aracaju. Ela conseguiu que a prefeitura de lá desse um ônibus para nos levar até o evento. Já na volta, um tio me deu a passagem”. Ela atribui a vitória na competição à sua força de vontade. “Talento só não basta. Eu já tinha uma certa facilidade, mas só isso não me garantia. Ganhando ou perdendo eu queria dar o meu melhor”. Começo A cantora conheceu o rap ainda com 10 anos de idade, através do irmão, um ano mais velho. Na mesma época, começou a escrever poesias, que apresentava em datas comemorativas na escola. “Sempre gostei da sonoridade da rima, então depois que descobri que o rap era ritmo e poesia, despertou em mim a vontade de cantar”. A primeira apresentação, de fato, só aconteceu alguns anos depois, quando já morava em Salvador. Porém, subir ao palco nem sempre foi fácil para ela, que chegava a passar mal com crises de ansiedade, que ela conseguiu superar. “Você não vai perder a oportunidade de falar coisas que têm tanto sentido no seu coração por causa de uma timidez”. Com a timidez superada, Janaina segue sua trajetória cantando aquilo em que acredita. Em suas letras, fala um pouco de tudo: violência, padrões de beleza, preconceitos, espiritualidade. “Minhas músicas são experiências minhas, conselhos, a busca por um mundo melhor, por um ser humano melhor”, conta. Para seu próximo trabalho ela já sabe o que pretende fazer: unir seus dois universos musicais. Veja no vídeo o rap que ela fez para o NEOJIBA. [video width="480" height="848" mp4="http://neojiba.org/wp-content/uploads/2017/08/VID-20170605-WA0012.mp4"][/video]

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