Violoncelo emprestado ao NEOJIBA tece história que conecta continentes

  • 09 dez, 2016

Fabricado na Itália, instrumento foi encomendado por um britânico e hoje é utilizado na Orquestra Juvenil da Bahia

Em julho de 2016, o NEOJIBA recebeu o empréstimo de um violoncelo que trouxe consigo uma história muito especial que conecta o baiano David Matos, coordenador pedagógico do Atelier Escola de Lutheria (AEL), o britânico George Edmundo Ratteray e o luthier suíço André-Marc Huwyler. Hoje, o instrumento faz parte da rotina de ensaios e concertos da Orquestra Juvenil da Bahia – principal formação musical do programa – e é usado pelo jovem violoncelista Rafael Teran, 22 anos. A viúva do britânico George Edmundo foi a responsável pelo empréstimo do instrumento. “A história e a alma do meu marido estão neste instrumento”, explica Tainã. “Eu não queria deixar ele parado, queria que o cello continuasse sendo tocado. Pensei em David e nosso amigo Péricles Palmeira sugeriu que eu fizesse uma doação em forma de comodato ao NEOJIBA. David sendo o fiel depositário do instrumento, este continuaria tendo vida e George estaria ali com a gente através da música”, relata Tainã. A amizade do britânico George Edmundo e David Matos começou em 2015, quando o violoncelo chegou até o Atelier Escola de Lutheria do NEOJIBA para ser restaurado. A baiana e viúva de Ratteray relata que desde o início os dois músicos desenvolveram uma relação muito bonita. George enfrentava um câncer há 9 anos e como consequência tinha deixado de tocar o instrumento. Junto com David, ele voltou a tocar. “Nos primeiros dias, eu percebi que ele tinha esquecido grande parte da sua técnica, mas aos poucos George foi recuperando tudo o que já tinha tocado antes”, relata o coordenador do AEL. “A presença de David foi muito especial, não apenas pela restauração do instrumento, mas também por estimular George a voltar a tocar”, conta Péricles. André-Marc Huwyler chega nesta bela história de afeto, troca e doação ao avistar no AEL o violoncelo emprestado, durante uma de suas periódicas visitas à Salvador. “Quando David retirou o instrumento do case, eu logo percebi que era um instrumento de Cremona (Itália), de construção recente”, conta o suíço. “Na etiqueta vi que o violoncelo havia sido construído em 1976 – mesmo ano em que eu comecei a estudar na Escola de Lutheria de Cremona – e por um dos meus principais professores, Giovanni Battista Morassi. Fiquei muito emocionado com esse reencontro”, relatou o suíço. Segundo Tainã, George conheceu o trabalho de Giovanni Battista Morassi numa revista e através de amigos do universo da música.  “George resolveu ligar para Morassi para saber mais sobre a fabricação de um violoncelo. Tiveram uma longa conversa e, ao se sentir seguro, pediu ao luthier italiano para fazer o instrumento”, conta Tainã. Morassi informou que ficaria pronto em dois anos. Passado um ano da conversa, George ligou para saber como estava a fabricação do instrumento, mas o italiano o lembrou que ainda faltava um ano. George então esqueceu completamente a história do cello”, narra a viúva. O instrumento chegou um ano depois às mãos de George. O luthier italiano enviou o instrumento. “George ligou para agradecer e saber como seria feito o pagamento. Um ano depois marcou uma viagem para Itália, para conhecer pessoalmente Giovanni Battista Morassi”. Um homem apaixonado por música “Um homem de 80 anos, com cabeça e espírito de 30! Vibrante, com olho brilhante, um moleque brincalhão”. Assim que Péricles Palmeira, grande amigo de George Edmundo, o descreve. Tainã completa: “George era uma pessoa especial, muito bem humorada, positiva, alegre. Sempre queria ajudar alguém. Era uma pessoa plena”. A história de George com a música começou aos 4 anos de idade, quando ele aprendeu a tocar piano, mesmo instrumento da mãe. Na adolescência, George aprendeu a tocar clarinete, mas se apaixonou pelo cello. “Onde George nasceu, em Bermudas, não havia muitas pessoas que sabiam tocar o instrumento. Porém, ele conheceu uma professora inglesa, com quem tomou aulas a partir dos 18 anos”, conta Tainã. Administrador de formação, George se matriculou numa faculdade de música em Montreal, no Canadá, depois de aposentado e após concluir o curso entrou na Orquestra Sinfônica de Bermudas como violoncelista.

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