Conheça as lideranças femininas da área de Canto Coral do NEOJIBA

  • 31 mar, 2016
Yuli Martinez Gaitan, Claudia Ferreira e Andréa Alves são as principais lideranças da área de canto coral do NEOJIBA. Yuli responde pela coordenação dos coros Sinfônico, Juvenil e Infantil do programa. Claudia atua na regência e na preparação vocal. Andrea também auxilia na preparação das vozes e atua como solista em alguns concertos. Juntas respondem pela formação de jovens multiplicadores, que atuam nos núcleos e projetos parceiros do NEOJIBA levando a crianças, adolescentes e outros jovens a oportunidade de praticar o canto coral com saúde e alegria! Confira nessa entrevista, as experiências de vida dessas três musicistas e seu ponto de vista sobre a prática de canto coral dentro e fora do programa NEOJIBA. Qual é a relação da mulher com o canto? Yuli: Para a mulher, a relação com o canto é mais natural. Ela pode desfrutar do canto desde criança até a vida adulta. Na puberdade, alguns homens vivem uma mudança muito grande na voz. Há homens que se acostumam e começam a trabalhar com esta ‘nova voz’ já transformada. Outros acham estranho ter uma nova voz. Aqui em Salvador, percebo que há mais mulheres do que homens interessados em participar dos coros. Observei isso nas audições que realizamos em Fevereiro e Março deste ano. Acho isso muito interessante. Observo nas mulheres daqui um talento e uma flexibilidade muito grande para cantar.  Nos homens também, apesar deles chegarem até nós em número menor. Talvez pelo fato dessa mudança vocal na puberdade, alguns desistam de cantar. Andrea: Não gosto de supervalorizar a mulher no canto. Na verdade, cada um expressa da sua forma, na sua verdade, independente de gênero. Isso é muito relativo. Claudia: Desde os primórdios, as orquestras sempre foram mais masculinas. No coro também era assim. Na Idade Média, apenas homens integravam coros. Aos poucos, as mulheres foram entrando na música. Hoje em dia, o canto coral é mais feminino mesmo. Isso é um reflexo do que observamos dentro da escola. Na escola, a maior parte dos estudantes que faz aula de canto coral são meninas. Isso não é muito forte em Salvador, mas eu já vi em outros lugares preconceito contra meninos que praticam canto coral. Eu diria que é uma questão cultural. Qual o perfil dos coristas do NEOJIBA? Yuli: Há um grupo bem diversificado nos coros do NEOJIBA. Em geral, observo que as mulheres gostam de cantar um samba, uma bossa nova. Então elas cantam em casa, cantam no chuveiro. No caso dos homens, aqueles que chegam para participar de uma audição no NEOJIBA já têm consciência do querer cantar. Andrea: Observo que muitos integrantes dos coros são pessoas que buscam a música como liberdade, como refúgio de certos problemas familiares. Mas há também pessoas que buscam como um caminho para a profissionalização. Um deles já fez inclusive a prova para canto lírico na UFBA. Há um desejo comum entre os participantes de descobrir como é cantar de forma adequada, com saúde. Há um interesse de compreender o aspecto técnico do canto coral, o repertório, entender e estudar a música como um todo. Há essa busca por conhecimento também. Claudia: Alguns vieram do projeto NEOJIBA nos Bairros. Agora os coros alcançaram uma visualização maior dentro do programa NEOJIBA. Antes, o coro era visto como uma ponte para a orquestra. A partir do momento em que o coro cresceu, percebo que os integrantes têm o desejo de crescer junto com a gente. Todos estão muito disciplinados e demonstram muita responsabilidade. FB_IMG_1456917430403 Como você se profissionalizou no canto coral? Yuli: Eu sou trompista. Sou musicista profissional da Orquestra Juvenil da Bahia, mas eu sempre gostei de cantar. Eu tinha 7 anos quando comecei a cantar num coro e continuei cantando. Aos 11 anos, eu iniciei a prática instrumental da trompa, mas permaneci também no canto. Quando eu entrei para a universidade, tive a oportunidade de fazer regência e escolhi fazer regência de coros. É algo que eu sempre gostei de fazer e me faz feliz. Fiz o mestrado em regência coral e permaneço me profissionalizando nesta área. O canto foi algo que nasceu comigo, é natural. A trompa, eu aprendi a tocar. Andrea: Eu sempre gostei de cantar. Eu nasci em Salvador e morei em Juazeiro 10 anos. Foi lá que eu comecei a atuar como cantora. Eu comecei cantando em barzinhos, canto popular. Depois eu senti uma necessidade de compreender o que eu fazia e ter consciência. Foi nesta época que a UFBA (Universidade Federal do Estado da Bahia) se tornou uma meta para mim. Eu estudei, me preparei e me formei. O canto lírico é uma meta que está à frente de tudo na minha vida. Eu sou soprano lírico ligeiro. Claudia: Eu canto desde sempre. Eu comecei a cantar na igreja com a minha mãe, com as minhas tias e depois vieram as minhas irmãs. Depois eu comecei a estudar um instrumento. Estudei órgão eletrônico e piano. Mas percebi que o que eu gostava de fazer era canto coral. Em 2002, ingressei na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Sou formada em regência coral. E no NEOJIBA, como foi essa trajetória dentro do programa? Yuli: No ano de 2011, eu tive a oportunidade de escutar o coro. Era um coro iniciante que contava com a regência do professor Obadias Cunha. Um coro bastante interessante. Eu ouvi e pensei: eu quero apoiar esse trabalho nas minhas horas livres, porque eu sou apaixonada e tenho uma prática de regência coral no meu país, na Colômbia. Vai ser legal aprender e também compartilhar algumas experiências. Comecei a trabalhar com eles aos pouquinhos, acompanhando as aulas. Até que o professor Obadias me convidou para assumir a liderança dos coros como regente. Foi uma comunicação muito legal com os jovens desde os primeiros dias. O trabalho cresceu aos poucos, a partir dos núcleos, do Coro Sinfônico e do envolvimento das crianças e dos jovens que queriam cantar. Mas havia poucos professores para trabalhar com eles. Então iniciamos um processo de preparação dos jovens para atuar na monitoria dos coros e eu estou na coordenação desse processo. Claudia: Eu vim de Porto Alegre para Salvador para fazer mestrado na UFBA, com a intenção de ficar um ano apenas. Eu conheci o NEOJIBA através da minha filha, Dâmaris dos Santos, que é violinista da Orquestra Juvenil da Bahia. Foi durante um ensaio da Orquestra na Concha Acústica, que Eduardo Torres (diretor musical do NEOJIBA) me convidou para entrar no coro. Na época, o coro estava ensaiando a Nona Sinfonia de Beethoven. Era uma preparação para a primeira apresentação pública do Coro Sinfônico. Eu comecei a cantar e depois eu iniciei o trabalho com Yuli, em Outubro de 2012. Hoje atuo como regente e preparadora vocal dos coros do NEOJIBA. Faço também doutorado na UFBA em educação musical e atuo como professora do curso de Licenciatura em Música, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). IMG-20151221-WA0008 Observamos que entre vocês três existe uma relação muito bonita de solidariedade. Como se constrói esse trabalho de apoio mútuo? Yuli: Nós somos três pessoas totalmente diferentes, mas esse contraste que existe entre nós é muito importante. Quando sentamos para trabalhar juntas, conseguimos criar coisas pelo fato de termos este complemento. Durante os ensaios, diante do grupo, sempre respeitamos e aceitamos o posicionamento uma da outra. É uma questão de profissionalismo, uma amizade. Isso é o que tentamos passar também para os integrantes dos coros. Quando estamos juntas, o trabalho cresce mais rápido, dá mais frutos. Andrea: Esta parceria com Yuli e Claudia foi algo que considero até espiritual. Há uma sintonia. Também há uma maturidade e um respeito à música. Nós nos preocupamos em oferecer aos integrantes do programa algo que possa fazer a diferença na vida daquele jovem, daquela criança. Este tipo de preocupação colabora para o desenvolvimento do nosso trabalho de uma forma mais sensata, compreensiva e respeitosa. Isso faz com que a parceria fortaleça. Claudia: Somos muito unidas e muito solidárias. Como mulheres, observo que a cada dia vamos conquistando mais espaços. A música ainda é um universo muito masculino, principalmente no que se refere às lideranças. A regência ainda é um desafio entre as mulheres. É um desafio conquistar o respeito e a admiração das outras pessoas. Entre os coros brasileiros mais conceituados, não há muitas regentes mulheres, mesmo no universo do canto coral.

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