As chefas de naipe da Orquestra Juvenil da Bahia

  • 08 mar, 2016
Durante a semana do Dia Internacional da Mulher, o NEOJIBA destaca mulheres que constroem e fortalecem o programa. As mulheres representavam 45,5% dos integrantes do programa em 2015, e constituem exatamente a metade dos funcionários em 2016. Dos 13 chefes de naipe da Orquestra Juvenil da Bahia, 6 são de gênero feminino. Dâmaris dos Santos (violino II), Elisa Rangel Hill (clarineta), Yamila Maleh (flauta), Laís Tavares (violoncelo) e Yaiza Prieto (contrabaixo) falam do papel do chefe de naipe e do lugar da mulher dentro da orquestra sinfônica. Erica
Erica Smetak, caçula da turma, assumiu a liderança do naipe de oboés em fevereiro deste ano.
Mulheres musicistas. Por muito tempo, não tinha mulheres dentro das orquestras sinfônicas. Vocês consideram que o debate sobre a questão de gênero continua sendo pertinente hoje no mundo da música de concerto? Yaiza
"No mundo das orquestras, a presença de mulheres contrabaixistas começa a ser mais usual. Nós estamos vivendo uma transformação." Yaiza Prieto, contrabaixista
Yaiza: No mundo das orquestras, a presença de mulheres contrabaixistas começa a ser mais usual. Até hoje não tem mulheres no naipe de contrabaixos da Orquestra Filarmônica de Berlim, nem na de Viena! Mas isso está mudando, nós estamos vivendo uma transformação. Elisa: O mesmo acontece no naipe de clarineta, com o clarone (clarinete baixo). Era muito raro que uma mulher tocasse clarone. Hoje em dia se vê mais nas orquestras e nas bandas. Qual o trabalho de um chefe de naipe? Laís: O chefe de naipe é a pessoa responsável pela organização do naipe, pela condução da construção da função do naipe. Dâmaris: Além disso, eu acho que a principal função é unificar o naipe. No meu caso, fazer 30 violinos soarem como 1 só. Yamila: No caso das madeiras, a diferença é que temos uma rotatividade. Quem toca primeira flauta, segunda flauta e piccolo... Somos pequenos solistas dentro da orquestra. Então cada músico consegue tocar uma vez em cada parte, cada função. É como se o chefe de naipe fosse o capitão de um time de futebol. O diretor técnico seria o regente e cada chefe de naipe seria um capitão. Não é sempre que faz gol, mas ajuda a unificar o grupo, o time, para conseguir uma excelência musical. Elisa: Eu acho que o termo “chefe” está mal usado. Porque na verdade não é um chefe, é um líder. A noção é diferente. Um chefe impõe e fala o que tem que ser feito. Um líder conduz todo um grupo para ter um mesmo resultado. Fazer saber que cada um é importante dentro do que cumpre. Como é ser chefe de naipe – líder dentro da orquestra – e mulher? Silencio... Trocas de olhares cúmplices. Yamila: Depende de cada naipe. Desde o inicio da Orquestra Juvenil da Bahia, o naipe de flautas foi liderado por uma mulher. Depois, eu cheguei, outra mulher. Então acho que no meu naipe, não tem problemas devidos aos gêneros, pois os músicos estão acostumados a serem liderados por uma mulher. Muitas vezes, não respeitar as decisões do líder não tem a ver com o fato dele ser mulher ou não, senão com o fato de entender que uma outra pessoa da sua idade está liderando e tem mais responsabilidade por isso. Dâmaris: Os violinos também quase nunca tiveram um chefe de naipe mulher, nem spalla. No inicio a adaptação foi um pouco trabalhosa, mas agora eu estou achando mais tranquilo. Esse tipo de conflitos é muito caraterístico de um fenômeno maior, que engloba toda a sociedade em que vivemos... Todas: sim! Elisa: É uma realidade que a mulher continue sendo esmagada e pisada pelo único fato de ser mulher; que não se reconhece como igual ao homem, como ser humano que é na realidade, sem distinção de homem e mulher. Nós mulheres temos os mesmos direitos, os mesmos deveres, com única diferença que cumprimos com os nossos deveres e não se respeitam os nossos direitos. Elisa
"Nós mulheres temos os mesmos direitos, os mesmos deveres, com única diferença que cumprimos com os nossos deveres e não se respeitam os nossos direitos." Elisa Rangel Hill, clarinetista
Yaiza: Estamos no inicio de um caminho... Laís: ... Para levar para o âmbito geral da música e dessa questão mesmo do feminismo. Nós mulheres dentro do corpo orquestral ainda estamos engatinhando. Estamos começando a dar os primeiros passos de liderança, de respeito pela igualdade... Lai?s
"Nós mulheres dentro do corpo orquestral ainda estamos engatinhando. Estamos começando a dar os primeiros passos de liderança, de respeito pela igualdade..." Laís Tavares, violoncelista
Yamila: É importante olhar o que estamos gerando, dentro do NEOJIBA. Na Orquestra Castro Alves (OCA) e nos núcleos do programa tem muitas meninas tocando nos metais e na percussão, naipes que costumavam ser constituídos unicamente por homens. Yamila
"É importante olhar o que estamos gerando, dentro do NEOJIBA. Na Orquestra Castro Alves (OCA) e nos núcleos do programa tem muitas meninas tocando nos metais e na percussão, naipes que costumavam ser constituídos unicamente por homens." Yamila Maleh, flautista
Dâmaris: Isso é o essencial para o futuro. Como elas estão começando a tocar instrumentos em que não se costumavam ver mulheres, talvez a próxima geração da Orquestra Juvenil da Bahia tenha naipes muito mais misturados, heterogêneos. Da?maris
"Talvez a próxima geração da Orquestra Juvenil da Bahia tenha naipes muito mais misturados, heterogêneos." Dâmaris dos Santos, violinista

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