Entrevista com Alexandre Espinheira

  • 13 jan, 2016
A Orquestra Juvenil da Bahia abriu a XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no dia 10 de outubro de 2015, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Sob a regência dos maestros Eduardo Torres e Ricardo Castro, o concerto marcou a estreia mundial de seis obras dos compositores brasileiros Jorge Antunes, Paulo Costa Lima, Lucas Duarte, Eli-Eri Moura, Liduíno Pitombeira e Alexandre Espinheira. Este último é soteropolitano, atualmente coordena o Música de Agora na Bahia, atua como percussionista em Salvador e trabalha com música eletroacústica e computacional. Em 2014, foi vencedor do Prêmio Funarte de Composição Clássica na categoria Orquestra Sinfônica com a obra E tornou-se Fábula, estreada pela Orquestra Juvenil da Bahia. Alguns minutos antes do concerto, ele respondeu às perguntas do NEOJIBA.   Você ja conhecia a Orquestra Juvenil da Bahia e o NEOJIBA? Sim, sou de Salvador e o NEOJIBA é bem famoso, tanto pelo cunho social do programa, quanto pela excelência artística. O que você achou do trabalho da orquestra, sabendo que a música contemporânea é um mundo novo para a maioria dos músicos? Bem bacana. É obvio que é uma linguagem que necessita de um tempo de maturação. Tem muita coisa diferente, principalmente na parte rítmica, na parte de timbre. Nos ensaios, eles se saíram muito bem! Na orquestra, há muitos músicos mais novos que estão tocando música contemporânea pela primeira vez. Qual seria a sua dica para que eles e as pessoas que não têm costume de ouvir essa música possam apreciar melhor essa estética musical? A palavra chave realmente é costume. Não é tão fácil de assimilar. Eu me lembro de uma peça que ouvi quando eu estava no curso de composição, a Paixão segundo São Lucas, do compositor polonês Krzysztof Penderecki. A primeira vez que eu ouvi, pensei ‘meu deus, o que isso? Como vou conseguir ouvir uma coisa dessa?’. Alguns anos depois, ouvi novamente essa peça. Eu achei tão linda, tão fantástica! Na primeira vez, eu não conseguia perceber as sutilezas. É costume mesmo. Ouvir sempre, tocar sempre. É um mundo completamente diferente. Você é percussionista e toca muita música popular. Como você consegue encontrar um balanço entre a música contemporânea que você compõe e a música popular que você toca? Não sei (risos). São dois mundos que parecem muito distantes, mas é tudo música. E música sempre está perto. Durante um período, eu pensei que era bipolar, porque de dia, eu estava na faculdade escrevendo música erudita e, de noite, eu estava tocando forró, samba, axé... Quando entrei no mestrado, uma das tentativas foi juntar essas coisas. Comecei a passear por esses dois mundos, tentando trazer a vivência da música popular para a música de concerto. Minha parte rítmica é sempre muito acentuada. Não consigo escrever sem ritmo. No final das contas, a gente é um só. Está tudo unido. Mas é um exercício diário também. Eu costumo dizer que não sou um compositor melhor, porque sou percussionista. Também não sou um percussionista melhor, porque sou compositor. Mas as duas coisas se completam também. Há pessoas que perguntam por que os integrantes do programa NEOJIBA aprendem a tocar música “europeia”, já que são brasileiros e poderiam tocar música “brasileira”. O que você pensa sobre essa questão? A base harmônica de toda a música popular brasileira também é europeia. Fomos colonizados pelos europeus. Música é música. Trazemos coisas de outras culturas também na música popular. A bateria e a guitarra vêm dos Estados Unidos, por exemplo. A gente usa os materiais e os instrumentos da melhor maneira que nos convém para fazer a música que nos agrada. É a segunda vez que uma obra sua está na Bienal de Música Brasileira Contemporânea. Como jovem compositor, como se sente hoje? Primeiro é uma grande honra estar no meio de tantos compositores consagrados. Outra grande honra é ter quatro peças de compositores nordestinos, entre as seis que foram apresentadas neste concerto (de Abertura da XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea). Dois são baianos, eu e Paulo Costa Lima. Eli-Eri Moura é da Paraíba e Liduino Pitombeiro é do Ceará. Essa representação já é uma grande vitória. Além disso, temos a Orquestra Juvenil da Bahia executando as obras em um dos lugares mais emblemáticos da música no Brasil, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Isso é o ápice para a música baiana de concerto. É fantástico. Estou extremamente feliz.  

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