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Experimentação musical, performance artística e reflexões sobre educação para o futuro marcam o seminário e colóquio do NEOJIBA

  • 31 jan, 2025

Uma apresentação musical de instrutores de todos os núcleos, com participação da artista Ana Veloso, que misturou experimentação, poesia, escultura e performance marcou o encerramento do 15º Seminário Pedagógico e o 8° Colóquio sobre Educação Musical para Pessoas com Deficiência do NEOJIBA. Desde o dia 27 de janeiro, instrutores, colaboradores e convidados do NEOJIBA se reuniram no Parque do Queimado para um momento de alinhamento institucional focado na formação de professores e no ensino de música. A cada ano buscamos nos aprofundar mais no tema da educação musical. Discutimos estratégias de ensino mais eficazes para que a qualidade do serviço que oferecemos sempre aumente e que a experiência dos integrantes seja cada vez mais imersiva. Assim contribuímos para a formação integral do jovem”, explicou José Henrique de Campos, diretor Educacional do NEOJIBA.


Inovar para educar

No início da semana, o lema do NEOJIBA, Aprende quem ensina”, tomou corpo na atividade Projeto Núcleos Multiplicadores, na qual grupos de trabalho discutiram maneiras de estimular jovens a conceber e apresentar projetos de aprendizado para outras pessoas de seus próprios núcleos, escolas ou mesmo bairros. A ideia é que eles ensinem o que aprenderam. É um projeto que busca desenvolver criatividade, autonomia, liderança e motivação”, disse José Henrique de Campos. O processo de criar uma maneira de ensinar faz o jovem aprender muito”.

Outro exemplo de pesquisa em curso veio na apresentação sobre repertório sequencial. Trata-se de um conjunto de peças organizado segundo critérios como grau de dificuldade e de adequação às necessidades pedagógicas de um grupo. Como explica Yuli Martinez, coordenadora pedagógica de Canto Coral e Iniciação Musical. Uma ferramenta de aprendizado que dialoga com os objetivos de cada formação grupo. "Estudar um repertório leva ao aprendizado de I uma peça complexa. Mas nosso foco é no processo formativo e não em conseguir tocar uma peça específica", explica. Atualmente, Yuli coordena o desenvolvimento de uma ferramenta digital de catalogação e busca de peças musicais. Já são 275 peças catalogadas na ferramenta, que está abrigada em um site. "É um trabalho colaborativo. Cada pessoa é estimulada a criar fichas das peças que possam compor o repertório, com informações como nome, autor e partitura, e colocar no sistema. Mas é preciso que faça sentido a peça entrar", explica.

As reflexões sobre pedagogia foram complementadas pela palestra do psicólogo Jardson Fragoso, especialista em Análise do Comportamento Aplicada. Jardson iniciou uma discussão aprofundada sobre o autismo e a neurodiversidade em que observou como costumes e falta de conhecimento científico levam à criação de estereótipos de pessoas neuroatípicas. Jardson apresentou conceitos úteis a educadores que ensinam crianças e jovens autistas, como a análise em cadeia e a análise sequencial. A atualidade do tema, segundo Jardson, é grande: O autismo e as neurodivergências têm aumentado em número. O mundo de hoje não é compatível com o futuro em que essas crianças se tornarão adultas. O educador precisa prepará-las para o mundo que vai chegar, e não para o presente”.


Debater o presente

O seminário também promoveu discussões com convidados sobre diversidade, cultura musical brasileira e tecnologia e educação.

O professor da Faculdade de Educação da UFBA Nelson Pretto fez uma palestra sobre as relações entre tecnologia e relações sociais, na qual abordou de forma crítica a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas. O problema não é o celular, mas os aplicativos de empresas cujos algoritmos têm intencionalidade”, afirmou. Pretto vê o celular como um computador poderosíssimo” e propõe que o debate seja não seja só sobre conteúdos: A escola não se resume a conteúdo. O debate precisa ser sobre como fortalecê-la e como apoiar o professor”.

Em uma apresentação seguida de debate, Fiona Cunningham, fundadora e diretora da AIM – Academy for Impact Through Music, instituição que pesquisa práticas inovadoras de ensino e desenvolvimento pessoal de jovens por meio da música, falou da busca por equilibrar a formação musical de excelência com a oferta de recursos que sirvam ao desenvolvimento pessoal e sobretudo à capacidade crítica dos participantes dos programas do AIM.  A música não é o objetivo final. O objetivo é que o estudante saia do programa com recursos para enfrentar as complexidades do mundo”, disse.

A fala de Fiona provocou uma reflexão sobre o papel do instrutor na vida futura dos jovens. Eu me pergunto aonde meus estudantes vão depois que saem da AIM. Que ferramentas eles têm para a vida? Em que são diferentes depois do programa?”, ela disse. A fala ressoou nos instrutores do NEOJIBA presentes, muitos dos quais disseram compartilhar do sentimento.

Fiona também participou de uma conversa sobre o tema do eurocentrismo no ensino de música. Ricardo Castro, diretor-geral do NEOJIBA, observou que a sociedade brasileira carrega uma grande herança das sociedades europeias, como leis, costumes e parte das religiões. Ricardo observou ainda que a influência da Europa não se limita ao Brasil. Em escolas de música da Ásia o foco também é eurocêntrico. A música indiana, por exemplo, que é muito complexa, não é ensinada nessas escolas”, disse.

Samuel Egídio, coordenador do Núcleo de Prática Musical Pirajá, entrou no debate para propor que haja integração entre culturas e que é possível reconhecer uma música brasileira autêntica, apesar das influências. Quando pensamos em música erudita, pensamos em Europa. Devemos equilibrar as coisas e não deixar de estudar essa música”, disse. Existe cultura de música erudita no Brasil. Ela não inviabiliza nossa cultura local. Não deixa de ser cultura brasileira por se expressar por formas ou estruturas preexistentes”, pontuou.

José Carlos Reis, coordenador do núcleo de Prática Musical Cordas Dedilhadas, lembrou da experiência de uma oficina de samba-chula para fazer um contraste entre modos de transmissão de conhecimento musical. Na oficina, ele disse, os músicos foram estimulados a apreender o estilo apenas ouvindo. Aprendemos partitura, mas também há tradições de aprendizado de ouvido. A forma de ensino-aprendizado está ligada ao conteúdo”, disse. 


Alinhamento institucional

Durante a semana, colaboradores dos nove Núcleos de Prática Musical, do Núcleo Central e dos três Núcleos Territoriais NEOJIBA se reuniram entre si para alinhar expectativas e planejar ações do ano de 2025.

Silvana Santos, coordenadora de acompanhamento psicossocial, apresentou a campanha NEOJIBA Plural, um movimento de celebração e respeito à diversidade, para que todas as pessoas sejam valorizadas, independente da origem, da cor da pele, da condição física ou mental, da religião, da idade, do gênero ou da orientação sexual.

Atividades no formato de oficina foram realizadas por coordenadores pedagógicos durante o seminário. A coordenadora pedagógica Elisa Graciela ministrou a atividade Desenvolvendo a motivação intrínseca em nossos integrantes”. Jamberê Cerqueira esteve à frente da atividade Oficina 2: O compositor-educador”.  Raphael Elias tratou do tema A.R.T.E.: Autonomia, Reflexão, Transformação e Expressão”, e Michele Girardi liderou a oficina intitulada Recital Musicopedagógico CDG”.

Outras atividades práticas que se distribuíram na programação da semana foram a série de ensaios em grupos reduzidos e a capacitação e alinhamento de naipes, que incluiu cordas agudas, cordas graves, metais, madeiras, percussão, cordas dedilhadas e canto coral.


Sobre o NEOJIBA

Criado em 2007, o NEOJIBA (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) promove o desenvolvimento e integração social prioritariamente de crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade, por meio do ensino e da prática musical coletivos. O programa é mantido pelo Governo do Estado da Bahia, vinculado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, e gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Social Pela Música. Em 17 anos, o NEOJIBA atendeu, direta e indiretamente, mais de 24 mil crianças, adolescentes e jovens entre 6 e 29 anos. Atualmente, o programa beneficia 2.400 integrantes diretos em seus 13 núcleos, em Salvador e mais 6 cidades do interior da Bahia, e 6.000 indiretos em ações de apoio a iniciativas musicais parceiras.


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