Foi o começo de uma viagem de mais de oito mil quilômetros e mais de dois séculos. Na noite de ontem, 12 de março, encurtaram-se as distâncias entre Bonn, na Alemanha, onde Ludwig van Beethoven nasceu há 250 anos, e Salvador.  O Teatro Castro Alves ficou cheio para ouvir o genial compositor alemão, cujas obras são como um chamado ao melhor que podemos ser.

O concerto de abertura da Série Beethoven 250 no TCA, promovida pelo NEOJIBA para celebrar o compositor, teve no palco a Orquestra NEOJIBA, regida pelo maestro italiano Edoardo Rosadini, com Ricardo Castro como solista ao piano. 
 
A noite começou com uma surpresa para o público, a execução de um trecho curto de Rei Estevão op. 117, criada por Beethoven em 1811. Na sequência, os músicos apresentaram o Concerto Nº 5 “Imperador”, composto entre 1809 e 1811, que é como uma conversa entre o piano e a orquestra.  Um diálogo conduzido, naquela noite, de maneira hipnótica pelo piano de Ricardo Castro.

 
Após o intervalo, na segunda parte do programa, veio a segunda surpresa. A orquestra tocou a peça “Soteropolitana”, do compositor baiano Luã Almeida, em mais um encontro que atravessou o espaço e o tempo.
 
Ricardo Castro lembrou como Beethoven foi um artista que fez sucesso em vida, e como é importante dar espaço para os músicos de agora.  Para Luã, que estava acompanhando o concerta na plateia, foi uma “surpresa maravilhosa”. “Fiquei muito feliz de ter essa oportunidade de escutar minha peça mais uma vez sendo tocada por uma orquestra baiana.”
 
O compositor também falou sobre como foi ouvir sua música em um concerto com obras do compositor alemão “senti a ´responsa´ de ter uma peça em um concerto dedicado a Beethoven. Qualquer compositor, ainda mais jovem como eu, se sentiria pequeno ao lado de um gênio como ele.  Mas estou, ao mesmo tempo, muito honrado em poder participar de tudo isso”.
 
Felizes e surpresos também ficaram os dois integrantes do NEOJIBA sorteados com uma bolsa para estudar alemão no Goethe-Institut, parceiro da Série Beethoven 250.  No Coro Juvenil, a bolsa foi para Michel Silva e na orquestra, Davi Calmon foi o ganhador. A Série também é apoiada pela Guebor Toyota e pelo Wish Hotel da Bahia.
 
Quinta Sinfonia
 
A plateia comoveu-se como quem ouve algo familiar quando soaram as primeiras notas da obra que fechou o concerto. A Quinta Sinfonia, escrita entre 1804 e 1808, é uma das composições mais conhecidas de Beethoven.
 
A contrabaixista Talita Felício, que está no NEOJIBA há nove anos, não sabe explicar direito porque a música faz tanto sucesso. Talvez ninguém saiba.  “Acho que é porque é linda. É isso. A gente se emociona tocando e quem escuta se emociona também”.

 
Talita e os músicos da orquestra passaram dois meses ensaiando para a apresentação. Aquela noite tinha para ela um significado especial. “A Quinta Sinfonia e o ‘Imperador’ são muito importantes para mim. O ‘Imperador’ foi a primeira obra que toquei na primeira turnê que fiz para a Europa. Lembro que estava na última estante e hoje estou chefiando o naipe.  E a Quinta não tem o que dizer. É a minha preferida. Beethoven é genial. A gente nunca para de aprender sobre ele”.
 
Membro do Círculo, programa de apoiadores do NEOJIBA, e um adorador de Beethoven, José Sérgio de Oliveira Andrade assistiu entusiasmado ao concerto. Desde 2009, ele acompanha as apresentações do programa. “Conheci aqui no Teatro Castro Alves. Me chamou muita atenção o teatro lotado de pessoas simples, da periferia, reunidas ali para ouvir música erudita. Acabei me envolvendo tanto que escrevi um livro sobre o NEOJIBA, que em breve será publicado. Classifico a Bahia em dois grupos: os que são apaixonados pelo NEOJIBA e os que ainda não o conhecem. É uma maravilha”.

Sobre o NEOJIBA

Criado em 2007 pelo pianista e maestro baiano Ricardo Castro, o NEOJIBA (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) promove o desenvolvimento e integração social prioritariamente de crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade, por meio do ensino e da prática musical coletivos. O programa é mantido pelo Governo do Estado da Bahia, vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social e gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Social Pela Música.

Em 12 anos de atuação, o NEOJIBA atendeu, direta e indiretamente, mais de 10 mil crianças e jovens entre 6 e 29 anos.  As apresentações das suas quatro formações orquestrais e dos seus núcleos de prática musical já foram vistas por mais de 830 mil pessoas no Brasil e no exterior.

Fotos: Eduardo Tosta e Matheus dos Anjos. Mais registros no flickr -> https://www.flickr.com/photos/neojiba/albums/72157713474037421