Ópera nordestina tem três apresentações lotadas

  • 28 ago, 2023

Quem poderia imaginar grandes filas, durante três dias, para assistir a uma ópera? Pois foi o que aconteceu nesta sexta (25), sábado (26) e domingo (27) no Passeio Público, no centro de Salvador, no último fim de semana.. O Coro e a Orquestra NEOJIBA, apresentaram "Dulcinéia e Trancoso", ópera nordestina criada pelo compositor paraibano Eli-Eri Moura, com libreto de W.J.Solha. A montagem, que reúne as principais formações musicais do programa do Governo da Bahia, já havia passado por João Pessoa, Mossoró e Manaus durante a "Turnê da Liberdade". A estreia na capital baiana foi no Teatro Vila Velha, como parte da Série Concertos Itinerantes, e contou com o patrocínio da Rede, através da Lei de Incentivo à Cultura.

As três apresentações ficaram lotadas, e muita gente precisou voltar para casa sonhando com uma segunda temporada da ópera. A jornalista Malu Fontes esteve por lá na última apresentação, no domingo, e saiu emocionada com o que viu. "Achei incrível, muito bonito. As cores do espetáculo, a direção, foi tudo maravilhoso. Quando a gente pensa em ópera, parece uma coisa distante, e aqui a gente viu muitas cores locais, nordestinas. Fico comovida de imaginar que a maioria desses meninos e meninas há cinco, seis anos, não imaginavam estar nesse lugar, com as pessoas aplaudindo de pé por muitos minutos". 

Inspirada na obra “A Pedra do Reino”, do escritor Ariano Suassuna, "Dulcineia e Trancoso" é uma mágica mistura entre elementos das culturas nordestina e ibérica, reunindo personagens como Miguel de Cervantes, o próprio Ariano, Dom Quixote e a Compadecida ao universo fantástico do circo. É considerada a primeira ópera armorial, movimento idealizado na década de 1970 por Suassuna para valorizar a arte popular do Nordeste Brasileiro.

Transformação social e acessibilidade

Robert Alexandre, maestro do Coral Juventude Arte do Recôncavo, foi assistir à ópera ao lado de coralistas do projeto. "A sonoridade, a técnica, foi tudo encantador.  Fiquei muito feliz de ver essa qualidade musical na Bahia, em Salvador. Tenho certeza que nossos jovens estão saindo daqui radiantes, com energia para a gente voltar ao Recôncavo e seguir neste caminho de levar a música como forma de transformação social".

Para garantir a acessibilidade a pessoas surdas, a ópera contou com tradução de libras da intérprete Cintia Santos. A musicista Karla Dayana, que toca violino, assistiu pela primeira vez a uma ópera e ficou feliz de ver que o espetáculo pensou em pessoas como ela. "O surdo é capaz de se emocionar através da música. Eu me senti muito conectada, me emocionei, chorei muito. Meu coração ficou acelerado! A presença do intérprete de libras  é muito importante, facilita muito para que a gente possa acompanhar. Fico muito feliz com iniciativas como essa do NEOJIBA".

Cantar nossa história na nossa casa

A ópera "Dulcineia e Trancoso" teve regência da maestrina Lucie Barluet, com direção cênica de Chica Carelli, direção de movimento de Luana Serrat, figurino de Zuarte Jr e luz de Luciano Santos. Lucie conta que esse apoio foi fundamental para o sucesso da montagem. "A ópera é uma mistura de várias artes e a gente teve parcerias fundamentais com Chica, que fez um trabalho incrível de palco e nos ajudou a entender a peça, Luana, que fez um trabalho maravilhoso de coreografia, de corpo, trazendo o mundo do circo, além do figurino e da luz incríveis de Luciano e Zuarte, que deram vida ao espetáculo. Tudo isso fez com que o projeto pudesse existir". 

Os solistas da ópera foram os próprios integrantes do NEOJIBA, com Maiane Santa Izabel como Dulcinéia, Thiago Alves como Trancoso, Samuel Marques como Ariano Suassuna, Ed Silva como Cervantes, Iuri Neery como Bozo, Guilherme Bispo como Dono do Circo, Alessandra Lima como A Compadecida e Camila Ceuta como A Morte.

Thiago Alves, o Trancoso, ficou feliz por poder finalmente apresentar a ópera em casa. "Estava bem ansioso para estrear aqui, porque vários amigos e familiares queriam ver essa ópera que conta um pouco da nossa história. Depois de passar por tantos teatros, ainda mais responsabilidade eu senti em cantar para minha gente. E foi fantástico. Fiquei muito feliz".

Sobre o NEOJIBA

Criado em 2007, o NEOJIBA (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) promove o desenvolvimento e integração social prioritariamente de crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade, por meio do ensino e da prática musical coletivos. O programa é mantido pelo Governo do Estado da Bahia, vinculado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, e gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Social Pela Música. Em 16 anos, o NEOJIBA atendeu, direta e indiretamente, mais de 12 mil crianças, adolescentes e jovens entre 6 e 29 anos. Atualmente, o programa beneficia 2.300 integrantes diretos em seus 13 núcleos, em Salvador e mais 6 cidades do interior da Bahia, e 4.500 indiretos em ações de apoio a iniciativas musicais parceiras.


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